A mineira Meirivone Rocha, 37 anos — mais conhecida como Santinha ou simplesmente "a mulher do boneco" —, da cidade de Rio Paranaíba, virou notícia na imprensa nacional e até mesmo internacional no fim de 2021, quando se casou com um boneco de pano. A cerimônia contou com cerca de 300 convidados, juíza, vestido de noiva, alianças e tudo o que um casamento tem direito.
A história de Santinha e de Marcelo (o boneco) começou na pandemia e foi "paixão à primeira vista". E o "amor" dos dois também rendeu um fruto: Marcelinho. O bonequinho nasceu no dia 21 de maio. Quem é da pequena cidade mineira pôde acompanhar de perto a barriga "crescendo" ao longo da gestação. Afinal, Meirivone fez questão de andar "grávida" pelas ruas da cidade. O "parto" foi transmitido ao vivo pelas redes sociais e, hoje, Marcelinho tem até um quartinho decorado na casa da família.
Agora, a mineira e seu famoso boneco estão focados nas festas juninas. "Marcelo e eu estamos nos apresentando e animando as festas juninas. E Marcelinho nos acompanha no carrinho, claro", contou.
A verdade é que toda essa história não passa de uma grande brincadeira, mas com um propósito: a realização do sonho da casa própria. Santinha trabalha como faxineira e é mãe solo de dois filhos reais: Carol, 19 anos, e Diego, 14. A família mora em uma casa alugada e o teatro de bonecos — como ela mesma se refere — foi uma maneira de chamar atenção para, quem sabe, conseguir ajuda para sair do aluguel, mas também "levar alegria" para outras famílias.
Apesar das mensagens ofensivas nas redes sociais (@meirivone_santinha), ela disse que também recebe muito carinho e incentivo. "Eu inventei um teatro que chamou atenção de todos porque é diferente, é algo lindo, que alegra as pessoas. Elas têm interagido com a nossa história e estão vendo como é bom 'viver uma vida de teatro' no meio desse mundo difícil, dessa correria do dia a dia, de dívidas, problemas, depressões...", afirmou. Confira, abaixo, a entrevista completa que Santinha concedeu à CRESCER.
CRESCER: Como Marcelo surgiu na sua vida? Meirivone Rocha: O Marcelo foi um pedido meu para a minha mãe. Ela é costureira e eu sempre fui dançarina de forró. Mas por conta da pandemia, não tinha um companheiro de dança nas festas, que passaram a ser online. Por isso, pedi para que ela fizesse um boneco de pano para eu dançar e ela topou. Então, num dia, fui trabalhar e ela disse para eu passar na casa dela para buscar o boneco. Na hora em que ela me mostrou o Marcelo, foi paixão à primeira vista! Eu o peguei, trouxe para casa e, nesse mesmo dia, já fiz uma live no Facebook para apresentá-lo e aí começou a brincadeira. Na época, ele não tinha nome e uma amiga sugeriu "Marcelo" para combinar com meu nome.
CRESCER: Recentemente, nasceu Marcelinho. Como foi? MR: Sim, nós tivemos um bebê, que acabou de completar um mês de vida. Ele nasceu no dia 21 de maio, no mês das mães, e se chama Marcelo Júnior. Seu apelido é Marcelinho. Eu já casei grávida, estava com três meses quando casamos. E teve o parto, sim. Aconteceu em um cenário criado por mim, na sala da minha casa. Minhas amigas foram as "enfermeiras" e "médicas". Foi um parto normal e teve tudo: ultrassom, batimentos cardíacos, chorinho do bebê, aferição de pressão e até desmaio do Marcelo! (risos) Eu fiz todo o procedimento de um parto. Teve contrações, soro, injeções, as pulseiras com os nossos nomes... não faltou nada! Eu tive meu cartão de pré-natal e Marcelinho tem até certidão de nascimento. Foi tudo transmitido ao vivo pelas redes sociais e por uma rádio local. Mais de cem pessoas assistiram. Foi um "parto surreal", lindo, como se fosse de verdade!
Marcelinho nasceu há um mês! (Foto: Arquivo pessoal)
Amigas fizeram o papel de enfermeira e de médica durante o "parto" (Foto: Arquivo pessoal)
CRESCER: Marcelinho teve até chá de bebê? MR: Sim, foi na sala da minha casa. Pedi ajuda com roupas, fraldas e sabonetes, para que pudéssemos doar para mães de verdade. No fim, arrecadamos cinco sacos de roupas e doamos, fiquei apenas com uma chupeta e dois macacões para o Marcelinho. No chá de bebê, também teve a revelação, fizemos um bolo de fraldas, mas não teve convidados. Minha filha filmou e fizemos a transmissão ao vivo.
Chá de bebê de Marcelinho (Foto: Arquivo pessoal)
CRESCER: Antes disso, teve seu casamento, que repercutiu na imprensa... MR: Sim, foi no dia 18 de dezembro. Na época, eu pedi ajuda à emissora de TV e rádio local e tivemos o patrocínio e ajuda de muitas empresas da região. Ganhei dois fotógrafos, bolo, doces, vestido, decoração, transmitimos ao vivo pelo Facebook... E a cerimônia foi linda, emocionante! Teve a dança dos noivos, tudo igual a um casamento de verdade. Gastei menos de 500 reais, apenas com pães recheados e refrigerante. O jantar foi feito por uma equipe que faz comidas típicas. A certidão de casamento custou R$ 2, teve a juíza, que foi uma amiga, e convidei a cidade toda, cerca de 300 pessoas compareceram. Elas se divertiram, riram bastante, foi engraçado... Marcelo e eu trocamos promessas, alianças, foi lindo. Foi o meu dia! Eu nunca casei na igreja, nem com o pai dos meus filhos, com quem fiquei por 11 anos, mas era meu sonho. Também comemorei meu aniversário, que foi um dia antes, 17 de dezembro.
Festa contou com vestido de noiva cerimônia (Foto: Reprodução/@meirivone_santinha)
Convidados reais! (Foto: Arquivo pessoal)
Bolo e certidão de casamento (Foto: Arquivo pessoal)
Filhos da vida real
CRESCER: Na vida real, você tem filhos. Como eles encaram essa história? MR: Na minha vida, hoje, tenho duas famílias: a de verdade e a de bonecos, afinal também me considero uma boneca. Marcelo é meu esposo fiel, o amor da minha vida, e temos o Marcelinho. Mas na vida real sou mãe de Caroline, 19 anos, e Diego, 14. Criei meus filhos sozinha, pois quando me separei, eles ainda eram bem pequenos. Carol me ajuda muito. Já o Diego não é muito de interagir com o Marcelo e o Marcelinho, mas também me ajuda com os vídeos e fotos. Os amigos dele ficam pedindo os vídeos, querem saber quando eu vou aparecer em alguma reportagem ou programa.
Caroline: No começo, eu achava ruim, não gostava, tinha vergonha, mas hoje eu gosto e ajudo a minha mãe a fazer os vídeos para o TikTok, as decorações para os eventos... O que consigo, eu ajudo. Eu que decorei o quartinho do Marcelinho, por exemplo. Temos fé de que ela vai conseguir a casinha dela!
CRESCER: Como faz para sustentar a casa e a família? MR: Eu sou faxineira e tem sido muito difícil. Eu achei que esse ano seria mais fácil, mas não está sendo. Pago 700 reais de aluguel e, neste mês, por exemplo, ficou a conta do mercado pendente. Ainda não tenho o dinheiro, não estão surgindo muitas faxinas e ainda preciso do dinheiro para pagar a água e a luz. Então, a parte financeira realmente está difícil, mas sei que vou conseguir. O meu sonho de vida é ter uma casa própria. Falar: "esta é minha casa", poder pregar um quadro na parede, que não seja em uma casa de aluguel. Se Deus quiser isso vai se tornar realidade.
Repercussão nas redes sociais
CRESCER: Você compartilha a vida com Marcelo e Marcelinho nas redes sociais. Recebe muitas mensagens? MR: Sim, a maioria das mensagems que recebo são boas, desejando que dê certo, que eu ganhe a casa própria que eu tanto quero. Sou faxineira, vivo dos meus braços, então muitas pessoas desejam que eu realize meu sonho. Mas, na internet, também vejo muitas críticas, muitas palavras "fortes", falando que sou louca, que tenho de ser internada, que preciso de tratamento... Mas não me importo com esses comentários, pois sou uma artista, sou feliz com minha arte. Marcelo, Marcelinho e Santinha são uma alegria para as pessoas. O povo tem interagido com o Marcelo, as crianças adoram o Marcelinho... As pessoas que criticam não conhecem minha história real. Eu "peguei" amor pelos meus bonequinhos.
Noite de núpcias! (Foto: Reprodução/@meirivone_santinha)
CRESCER: E você e Marcelo, quais são os planos daqui para frente? MR: O plano é ter uma menina. Ainda estou pensando qual será o nome dela: Emília ou Marcela. Mas só daqui um ano e meio ou dois anos. Antes disso, ainda terá o batizado do Marcelinho, que deve acontecer em agosto ou setembro. Muitas amigas querem ser a madrinha, então vamos fazer um sorteio. Agora, Marcelo e eu estamos focados nas festas juninas, onde nos apresentamos e ajudamos com a animação. E Marcelinho nos acompanha no carrinho. Depois, ainda terá o aniversário de 1 ano dele. Mas a família vai aumentar, sim, e terão muitas coisas boas por aí. Meu teatro não termina, não vou medir esforços para alcançar meus sonhos e levar alegria para as famílias com meu jeito de ser. Eu inventei um teatro que chamou atenção de todos porque é diferente, é algo lindo, que alegra as pessoas. Sou feliz por ter inventado essa brincadeira. As pessoas têm interagido com a nossa história e estão vendo como é bom "viver uma vida de teatro" no meio desse mundo difícil, dessa correria do dia a dia, de dívidas, problemas, depressões... Então, também vivo essa vida de alegria e esperança por um mundo melhor. É uma arte. Eu sou uma artista!
https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2022/06/dizem-que-sou-louca-mas-nao-me-importo-diz-mineira-que-ficou-famosa-ao-se-casar-com-boneco-de-pano-e-dar-luz-um-bonequinho.html